Chegou o Momento de se Levantar e Se Envolver

No mês passado, eu comemorei o 18º aniversário da minha chegada aos Estados Unidos. Este ano tem sido difícil para todos nós, eu passei os últimos meses me aprofundando sobre os meus sentimentos, já que eles se relacionam com nossa interconectividade neste país e no mundo.

Por Eric Faria | Translated by Jamal Fox & Alisson Ziza

No mês passado, eu comemorei o 18º aniversário da minha chegada aos Estados Unidos. Este ano tem sido difícil para todos nós, eu passei os últimos meses me aprofundando sobre os meus sentimentos, já que eles se relacionam com nossa interconectividade neste país e no mundo.

Como alguém que sempre se preocupou com a maneira como os outros me veem, como eles poderiam ver a minha verdadeira face se eu os mostrasse quem eu era; aceitar que eu possa parecer estridente por causa da minha voz, isso me traz um sentimento de desconforto.

Há uma frase do excelente documentário Crip Camp: Revolução pela Inclusão, que não sai da minha mente. Ela é dita por um de seus personagens chamado Steven Hofmann: “Se você é um portador de deficiências e tem um comportamento passivo sobre si próprio, então está em muito problema. A passividade referida nesta frase se trata de ver algo de errado e não fazer nada para mudá-lo. Substitua “portador de deficiências” por pessoa negra, indígena, asiática, mulher, LGBTQ, latino, imigrante, etc. e você pode ver a profundidade da frustração coletiva que estivemos sentindo ultimamente, eu mesmo incluso.

Eu tentei permanecer calado por tanto tempo para não entrar em confrontos, engolindo as palavras que teriam me libertado. Eu não tive a coragem para defender a mim e ao que eu acreditava no passado. Eu tive que obedecer às regras do perfeccionismo, já que a passividade pode ser mal interpretada como altruísmo ou generosidade.

Você poderia me imaginar, um imigrante latino, trancado no armário, tentando ser invisível, expressando minha voz? Meu objetivo era puramente o de sobreviver, chegando ao ponto de desaparecer. Se ninguém percebesse que eu estava ali, meu objetivo já teria sido alcançado.

Já que isso se relaciona com os meus sentimentos como um imigrante que tem chamado os Estados Unidos de lar por mais da metade de minha vida, o comediante Hasan Minhaj encapsulou os meus sentimentos conflitantes: “A história da América não começou quando viemos aqui. Quando você se torna um cidadão americano, você não pode apenas aceitar a excelência do país. Você também deve aceitar os seus defeitos. Essa é a condição.”

A luta pela justiça social, pelos direitos civis e pela igualdade é constante. No documentário mencionado acima, a luta para aprovar a Lei dos Americanos Portadores de Deficiências (ADA) é crônica. O movimento em pró dos direitos dos atuais 61 milhões de americanos portadores de deficiências (26% da população) foi uma luta difícil. Ele levou décadas para ser concretizado. A lei ADA celebrou o seu 30º aniversário mês passado.
Também em julho, nós lamentamos o falecer de um ícone dos direitos civis, John Lewis, que nasceu em Alabama, onde ele vivenciou o racismo e a segregação de primeira mão. Ele marchou ao lado de pessoas como Rosa Parks e Dr. Martin Luther King, Jr. Suas contribuições para a melhoria de nossa sociedade, para garantir que todos tivessem o mesmo acesso à votação nos E.U.A. – pelas quais ele foi espancado, teve o seu crânio fraturado e foi preso mais de quarenta vezes – não podem deixar de ser ressaltadas. Ele também serviu na Câmara dos Deputados dos E.U.A. por mais de trinta anos – de 1987 até o seu falecimento.
A pandemia global demonstrou o quanto somos desiguais; como as geopolíticas nos deixam mais protegidos ou mais vulneráveis; como a imagem passada de perfeição e de ter tudo sob controle era uma ilusão.

Como um ex-perfeccionista, eu estou aperfeiçoando a minha voz, eu não sei qual forma ela terá em alguns meses no futuro. Eu a estive cultivando num processo de tentativa e erro, o que pode ser bem assustador. Isso quer dizer que eu não tenho controle sobre tudo. Eu nunca tive.

O ativismo é definido como a política ou ação de utilizar campanhas vigorosas para trazer mudanças políticas ou sociais. Meu convite é para descobrirmos o que acende as nossas chamas e para nos acostumarmos com isso. Nem todos nós vamos estar nas ruas protestando. Alguns de nós vamos fazê-lo por escrito, por arte ou até distribuindo panfletos, assinando petições, realizando chamadas ou enviando e-mails. Não precisamos marchar para Washington, D.C. ou fazer grandes discursos políticos para defendermos a liberação. As pessoas, tanto no passado quanto no presente, levantaram e continuam levantando suas vozes através de seus poemas, seus quadros, suas músicas e muito mais.

A única forma de mudar as injustiças históricas e sistêmicas é fazendo algo ao seu respeito. Chegou o momento de nos levantarmos e nos envolvermos. Qual será a sua contribuição para a sociedade?

 

Eric Faria é um Life Coach que ajuda pessoas que se escondem atrás do perfeccionismo. Ele é produtor e apresentador da série I AM with Eric Faria, disponível no YouTube. A série também está disponível como podcast em várias plataformas de streaming, como o Apple Podcasts e o SoundCloud. Envie um e-mail para ele via o endereço ericfaria@icloud.com.